O Mirante do Boldró, em Fernando de Noronha, é um exemplo de como a arquitetura pode valorizar a paisagem sem competir com ela. O projeto nasceu da revitalização de uma estrutura preexistente, preservando sua essência e integrando soluções contemporâneas que reforçam a experiência imersiva no cenário natural. A proposta não apenas aprimorou um ponto já icônico da ilha, mas também trouxe um novo olhar para o espaço, transformando-o em um restaurante que se dissolve na paisagem e convida à contemplação.

A concepção do fechamento do primeiro pavimento foi guiada por um gesto poético e contextual: a inspiração veio do fundo de pedra vulcânica onde se formam as lendárias ondas do Boldró, que quebram para os surfistas exatamente em frente ao restaurante. O local, tradicional ponto de encontro para quem observava as condições do mar, ganhou um novo significado arquitetônico. A textura da massa corrida aplicada às superfícies internas remete às formas e relevos dos corais, conferindo uma rusticidade única que aproxima o visitante da natureza local de forma tátil e emocional.

As aberturas orgânicas desenhadas na estrutura moldam enquadramentos singulares da paisagem: recortes visuais que capturam o oceano, as falésias e o horizonte de maneira sempre renovada. Esse conceito se amplia no deck externo, que se projeta como uma continuação natural do mirante, dissolvendo os limites entre o interior e o exterior. A área externa foi pensada como um espaço fluido e democrático, onde diferentes ambientes de estar e contemplação se integram com leveza ao entorno.

Os materiais escolhidos respeitam e traduzem a identidade de Noronha. O uso de madeira natural e pedras da região estabelece uma conexão sensorial direta com o território, reforçada por uma paleta de cores inspirada nos elementos nativos da ilha. O mobiliário, de desenho simples e elegante, dialoga com a rusticidade do lugar, equilibrando conforto e autenticidade com sutileza.

Mais do que um restaurante, o Mirante do Boldró é um espaço de pausa e contemplação, onde arquitetura, natureza e memória se fundem em harmonia. Seja para um almoço à beira-mar, um jantar ao pôr do sol ou um momento de silêncio diante da imensidão do oceano, o projeto convida a viver Noronha com os cinco sentidos — entre o rústico e o sofisticado, o tempo presente e a natureza intocada.

arquiteto responsável
André Pavan

equipe de projeto
André Pavan / Mirian Chiang